O que são expressões idiomáticas? Para que servem e de onde surgiram?
"Podemos definir expressão idiomática como uma locução ou modo de dizer privativo de uma determinada língua e que não é possível traduzir literalmente em outras línguas. Também é denominada idiotismo, palavra de origem grega e que passou para o latim como idiotismu – e deste para as línguas neolatinas.
As expressões idiomáticas são manifestações espontâneas da criatividade, do humor e da beleza de qualquer língua. Não é possível, portanto, determinar a sua origem, pois fazem parte da essência da comunicação verbal.
As expressões idiomáticas não têm uma utilidade específica, mas criam imagens que captam a emoção e a sensibilidade dos falantes, podendo ainda facilitar a memorização."
in http://ciberduvidas.pt/pergunta.php?id=12855
Inspiradas por alguns posts deste blog (do qual retirámos algumas das imagens), resolvemos também nós ilustrar algumas expressões idiomáticas da nossa língua e explicar o seu significado. Esses posts podem ser consultados aqui.
Porque a despedida de dia 17 se transformou, ainda que por motivo diverso do almejado, em um “Até já”, eis-nos de volta para prosseguir a nossa aventura por este Atlântico de histórias.
Inspiradas pelo poema “Há palavras que nos beijam”, de Alexandre O’Neill, já publicado neste blogue, optamos, desta feita, por fazer uma recolha das palavras portuguesas que nos “beijam”, ou seja, as nossas favoritas, quer porque gostamos da sua sonoridade ou das imagens que evocam. No entanto, porque não faria qualquer sentido apresentar essas mesmas palavras, uma a seguir à outra, qual lista de compras, faremos também uma breve resenha da sua história e ilustrá-las-emos com citações ou poemas em que figurem. Boas leituras!
17 de Janeiro de 2014. Termina hoje a primeira fase do concurso Ler em Português, no qual tem sido extremamente gratificante participar. Em jeito de despedida (que esperamos mais não seja do que um “Até já”), deixamo-vos com uma resenha de quem somos…
(E porque a poesia também se ouve, temos agora uma playlist no blog!)
(Pintura de Jay Fancher)
E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,
a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável
pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar
toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.
Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera
e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,
convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas,
assim me disse, embora voz alguma
ou sopro ou eco ou simples percussão
atestasse que alguém, sobre a montanha,
a outro alguém, noturno e miserável,
em colóquio se estava dirigindo:
"O que procuraste em ti ou fora de
teu ser restrito e nunca se mostrou,
mesmo afetando dar-se ou se rendendo,
e a cada instante mais se retraindo,
olha, repara, ausculta: essa riqueza
sobrante a toda pérola, essa ciência
sublime e formidável, mas hermética,
essa total explicação da vida,
esse nexo primeiro e singular,
que nem concebes mais, pois tão esquivo
se revelou ante a pesquisa ardente
em que te consumiste... vê, contempla,
abre teu peito para agasalhá-lo.”
As mais soberbas pontes e edifícios,
o que nas oficinas se elabora,
o que pensado foi e logo atinge
distância superior ao pensamento,
os recursos da terra dominados,
e as paixões e os impulsos e os tormentos
e tudo que define o ser terrestre
ou se prolonga até nos animais
e chega às plantas para se embeber
no sono rancoroso dos minérios,
dá volta ao mundo e torna a se engolfar,
na estranha ordem geométrica de tudo,
e o absurdo original e seus enigmas,
suas verdades altas mais que todos
monumentos erguidos à verdade:
e a memória dos deuses, e o solene
sentimento de morte, que floresce
no caule da existência mais gloriosa,
tudo se apresentou nesse relance
e me chamou para seu reino augusto,
afinal submetido à vista humana.
Mas, como eu relutasse em responder
a tal apelo assim maravilhoso,
pois a fé se abrandara, e mesmo o anseio,
a esperança mais mínima — esse anelo
de ver desvanecida a treva espessa
que entre os raios do sol inda se filtra;
como defuntas crenças convocadas
presto e fremente não se produzissem
a de novo tingir a neutra face
que vou pelos caminhos demonstrando,
e como se outro ser, não mais aquele
habitante de mim há tantos anos,
passasse a comandar minha vontade
que, já de si volúvel, se cerrava
semelhante a essas flores reticentes
em si mesmas abertas e fechadas;
como se um dom tardio já não fora
apetecível, antes despiciendo,
baixei os olhos, incurioso, lasso,
desdenhando colher a coisa oferta
que se abria gratuita a meu engenho.
A treva mais estrita já pousara
sobre a estrada de Minas, pedregosa,
e a máquina do mundo, repelida,
se foi miudamente recompondo,
enquanto eu, avaliando o que perdera,
seguia vagaroso, de mãos pensas.
Não, Poesia:
Não te escondas nas grutas do meu ser,
Não fujas à Vida.
Quebra as grades invisíveis da minha prisão,
Abre de par em par as portas do meu ser
- sai…
Sai para a luta (a vida é luta)
Os homens lá fora chamam por ti,
E tu, Poesia és também um Homem.
Ama as Poesias de todo o Mundo,
- ama os Homens
Solta teus poemas para todas as raças,
Para todas as coisas.
Confunde-te comigo…
Vai, Poesia:
Toma os meus braços para abraçares o Mundo,
Dá-me os teus braços para que abrace a Vida.
A minha Poesia sou eu.
(fotografia de Alex Ferreira)
A mãe negra embala o filho.
Canta a remota canção
Que seus avós já cantavam
Em noites sem madrugada.
Canta, canta para o céu
Tão estrelado e festivo.
É para o céu que ela canta,
Que o céu
Às vezes também é negro.
No céu
Tão estrelado e festivo
Não há branco, não há preto,
Não há vermelho e amarelo.
—Todos são anjos e santos
Guardados por mãos divinas.
A mãe negra não tem casa
Nem carinhos de ninguém...
A mãe negra é triste, triste,
E tem um filho nos braços...
Mas olha o céu estrelado
E de repente sorri.
Parece-lhe que cada estrela
É uma mão acenando
Com simpatia e saudade...
Blogue criado para a participação na segunda edição do concurso Ler Em Português, promovido pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, a Rede de Bibliotecas Escolares e o Plano Nacional de Leitura, tendo como tema: Português, Uma Língua com História.
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